quinta-feira, 14 de março de 2013

Lisbell


Olhos vítreos, cabelo embaraçado e molhado pelo orvalho, uma incerteza no peito, uma sensação de perda e vazio que não conseguia explicar. Estava ali naquela clareira desde  antes do amanhecer, acordara inquieta de um sonho do qual não conseguia lembrar e decidiu se refugiar ali em busca de paz.
Um calafrio percorreu seu corpo e as lágrimas afloraram em seus olhos, ela não conseguia entender o que se passava ali naquele pedaço obscuro do seu coração que se recusava a abrir e deixá-la ver o que havia dentro.
Seus pés doíam, ela olhou em volta e percebeu que se encontrava em algum lugar no meio da floresta, nem ao menos se lembrava de ter começado a andar, continuou caminhando a procura de um lugar para sentar, chegou então a um lago de águas negras, sentou-se ali na beirada e ficou contemplando a névoa que subia, não sabia que lugar era, nem o que a havia levado até ali, mas se sentia em paz finalmente.
Uma chuva fina começou a cair, ela não se importou em puxar o capuz, ficou ali vendo as gotas caindo no lago, pelo reflexo no lago viu uma luz logo atrás de si na floresta, adentrou a mata novamente impelida por algum desejo mais profundo que a consciência ou o coração, era como se aquela luz atravessasse a sua alma. Chegou então a um enorme carvalho que parecia ser o coração da floresta, suas raízes estavam por toda parte, e em seu tronco dentro de uma cavidade um pouco maior que ela aquela luz de antes brilhava fortemente. Adentrou pelo tronco da árvore e tudo se iluminou, e ela ficou ali segura e tranquila, ela encontrou o que nem sabia que procurava, estava de volta ao lar...
Olhos vítreos, cabelos emaranhados e molhados, mãos fechadas e rígidas, lábios que pareciam sussurrar ao vento, e entre os dedos um papel com uma única palavra: LAR. Foi  o que ele encontrou ao passear naquela manhã a procura de seu gato, a linda jovem de cabelos emaranhados sem vida deitada no chão frio.

Renata Castro
15/03/13

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