terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Sobre Acreditar




O vento que veio do norte levou as folhas embora. Parecia com o vento que antecede a primavera. O vento outonal que derruba todas as folhas para que a árvore possa renascer na primavera.
O vento veio, as folhas se foram, entretanto, a promessa de primavera nunca se cumpriu.
Naquele lugar as estações há muito não seguiam o curso normal. Agora uma árvore nua se erguia no meio da planície desolada. As chuvas vinham e a cada vez mais a árvore era açoitada. Os galhos fragilizados começaram a se partir, um a um.
Na copa da árvore não mais nasciam ervas, as folhas há muito haviam murchado, não havia qualquer adubo para nada naquele lugar.
Vida não mais se criava nem se transformava tudo naquele lugar parecia estar envolto em um vazio inacessível.
Não havia pássaros, não haviam folhas e nem flores nos galhos, não havia grama ou flores no chão ao redor do tronco da árvore, algo tóxico parecia ter se derramado naquele lugar e toda a vida que um dia existiu esvaiu-se.
As promessas de primavera nunca se cumpriram.
Por longos invernos a árvore suportou de pé na esperança de que a primavera iria voltar.
Então mais um tempestade veio, raios trilhavam seu caminho brilhante pelo céu escuro. Aqueles galhos retorcidos esperavam que a chuva talvez pudesse fazer algo florescer. Então um raio brilhou logo acima da velha árvore, naquela tempestade finalmente ela viu seu fim, partida ao meio por um brilhante raio, tudo que restou daquela árvore foram pedaços retorcidos de galhos chamuscados.
Talvez agora que ela se foi finalmente a vida poderia voltar para aquele lugar esquecido pelo tempo, e as estações finalmente fossem as mesmas novamente, ela jamais saberia, mas estava feliz por finalmente descansar.
Uma dríade sempre morre com sua árvore, alguns dos pequeninos ao partir ainda lhe convidaram, eles pareciam saber que o inverno iria durar, que a neve iria cair, que as flores não iriam desabrochar, mas ela confiou, confiou que a primavera voltaria, então ela esperou, agora nada mais importava, elas viveram juntas, e juntas partiriam, com o que restou de suas forças deixou cair uma última lágrima, e orou para que ela fosse forte o suficiente para que aquela árvore deixasse para trás um legado.

Renata Castro
17/01/2017